quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Grand Bazar

 

Nas minhas andanças pelo bairro de Sultanahmet caí em um bazar chamado Arrasta, próximo de um bar onde turcos e turistas fumavam narguilé e tomavam chá. Sentei em uma mesa privilegiada para assistir a uma cerimônia Dervish onde os dançarinos, vestidos de branco e com chapéus cônicos, rodopiavam com os braços para cima levados pelo êxtase da música. Fui entrando neste clima à medida que os músicos aumentavam o ritmo da percussão, os Dervishes aceleravam os giros e o Raki (a cachaça da Turquia) subia na minha cabeça.

(Lembro ter visto um panfleto referente os Dervishes e perguntado ao concierge do hotel que estava hospedado, onde poderia ver essa “dança”. A resposta foi mais mal educada que a minha pergunta. Fui saber que o Dervish é uma cerimônia, e não uma dança, considerada parte do patrimônio cultural turco, cuja prática consiste de um ritual místico cheio de simbolismos, existente há mais de 700 anos. Apaixonei-me pelo assunto. Dias depois, após vários Googles e Youtubes no assunto, fui assistir a um espetáculo no Hodjapasha Dance Theater. RECOMENDO!!!!! )

Depois de pagar a conta levantei da cadeira mais tonto que os Dervishes, mas com uma calma interior e uma leveza de espírito e deixando para trás um ambiente todo tomado por uma sensação de paz.
 

A caminhada até o Grand Bazar foi o suficiente para evaporar qualquer resquício desta viagem mística e com o impacto do colosso de pessoas entrando e saindo de uma das portas deste shopping me fez acordar e cair na realidade. Agora precisava o máximo de atenção nos produtos e preços.

O Grand Bazar é um dos maiores mercados cobertos do mundo. São mais de 5000 lojas entre 60 ruas e vielas. Um verdadeiro labirinto! Foi construído por um dos Sultões turcos em 1461, logo após a tomada de Constantinopla pelos Otomanos.
 

Meus 13 anos de comércio não são páreo para gerações de mercadores que testemunharam o nascimento do Cristianismo, as idas e vindas de Marco Polo, Cruzadas etc. Minha única vantagem: Era eu quem estava comprando, portanto a decisão final sempre seria minha.

Respirei fundo e entrei na primeira loja de tapetes Kilim. Fui abordado por um vendedor que logo me ofereceu um chá. O chá na Turquia demonstra hospitalidade e ajuda a quebrar o gelo entre as duas partes. Sem muito interesse comecei a perguntar os preços das capas de almofadas da Anatólia. Quanto mais eufórico mais caro fica o produto!
 

Em todas as lojas tive as mesmas experiências; Ritual do chá, pergunto os preços, falo que está caro, pechincho, mas acabo não levando nada. Precisava ter ideia de preços.

Encontrei um fornecedor em um restaurante, lá dentro do bazar, chamado Burç. Parece um boteco com poucas mesas na lateral de uma viela movimentada. Os garçons, acostumados com o dilúvio de turistas, driblavam as pessoas segurando as bandejas acima da altura da cabeça. Coisa de equilibrista! A comida? SENSACIONAL!! Recomendo o kebab de carneiro, berinjela recheada, pimentão recheado e para beber iogurte salgado (isso mesmo!!).

Esse encontro foi fundamental. Atravessando um labirinto de ruas e passagens, fora do Grand Bazar, ele me levou ao seu QG e lá me mostrou as diversas qualidades e tipos de Kilim. Ele me indicou outros fabricantes/fornecedores de cerâmica de Kutahya, luminárias de vidro, olho turco e marchetaria.

O Kilim, tapetes de lã vindos principalmente da Anatólia (território turco no continente asiático) têm formas geométricas e cores opacas. Meu fornecedor percorre os diversos estados da Anatólia, adquire os tapetes nas comunidades e leva para o sul, próximo de Antalya. Lá, em terrenos alugados, as tapeçarias são esticadas para “tomar sol” durante todo o verão para perder o brilho e “ganhar” aquela aparência de usado. Já em Istambul, alguns são cortados para fazer capas de almofadas.

Além da qualidade, os Kilins são categorizados por região:

1)      Kars (fronteira com a Armênia)

2)      Van (região leste)

3)      Sharkoy (Noroeste mais Bulgária)

4)      Kayseri (Região central incluindo Capadócia)

5)      Ushau (Região de Ismir)

6)      Cicim (região ocidental)

Entre outros.....                                    

Toda essa explicação foi regada com diversos copos de chá e doces turcos. Tirei duas conclusões deste dia:

1)      As lojas do Grand Bazar são revendedores e são principalmente para os turistas. Embora a pechincha seja incentivada, os preços finais dos produtos sempre vão estar nas alturas. Para mim isso não interessa. Preciso comprar volume a preços baixos para poder revender aqui na minha loja em São Paulo. Os fabricantes/distribuidores estão escondidos em prédios nos arredores, onde o aluguel é mais barato e o espaço maior.

2)      Os grandes distribuidores tem pouca margem para negociar. Normalmente eles já dão o preço final. Saiba que o vendedor que incentiva a negociação, fixa os preços nas alturas!

 

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