Nas minhas andanças pelo bairro de Sultanahmet caí em um
bazar chamado Arrasta, próximo de um bar onde turcos e turistas fumavam
narguilé e tomavam chá. Sentei em uma mesa privilegiada para assistir a uma
cerimônia Dervish onde os dançarinos, vestidos de branco e com chapéus cônicos,
rodopiavam com os braços para cima levados pelo êxtase da música. Fui entrando
neste clima à medida que os músicos aumentavam o ritmo da percussão, os Dervishes
aceleravam os giros e o Raki (a cachaça da Turquia) subia na minha cabeça.
(Lembro ter visto um panfleto referente os Dervishes e
perguntado ao concierge do hotel que estava hospedado, onde poderia ver essa
“dança”. A resposta foi mais mal educada que a minha pergunta. Fui saber que o
Dervish é uma cerimônia, e não uma dança, considerada parte do patrimônio
cultural turco, cuja prática consiste de um ritual místico cheio de simbolismos,
existente há mais de 700 anos. Apaixonei-me pelo assunto. Dias depois, após
vários Googles e Youtubes no assunto, fui assistir a um espetáculo no
Hodjapasha Dance Theater. RECOMENDO!!!!! )
Depois de pagar a conta levantei da cadeira mais tonto que
os Dervishes, mas com uma calma interior e uma leveza de espírito e deixando
para trás um ambiente todo tomado por uma sensação de paz.
A caminhada até o Grand Bazar foi o suficiente para evaporar
qualquer resquício desta viagem mística e com o impacto do colosso de pessoas
entrando e saindo de uma das portas deste shopping me fez acordar e cair na
realidade. Agora precisava o máximo de atenção nos produtos e preços.
O Grand Bazar é um dos maiores mercados cobertos do mundo.
São mais de 5000 lojas entre 60 ruas e vielas. Um verdadeiro labirinto! Foi
construído por um dos Sultões turcos em 1461, logo após a tomada de
Constantinopla pelos Otomanos.
Meus 13 anos de comércio não são páreo para gerações de
mercadores que testemunharam o nascimento do Cristianismo, as idas e vindas de
Marco Polo, Cruzadas etc. Minha única vantagem: Era eu quem estava comprando,
portanto a decisão final sempre seria minha.
Respirei fundo e entrei na primeira loja de tapetes Kilim.
Fui abordado por um vendedor que logo me ofereceu um chá. O chá na Turquia demonstra hospitalidade e ajuda a quebrar o gelo entre
as duas partes. Sem muito interesse comecei a perguntar os preços das capas de
almofadas da Anatólia. Quanto mais eufórico mais caro fica o produto!
Em todas as lojas tive as mesmas experiências; Ritual do chá, pergunto os preços, falo que está caro, pechincho, mas acabo não levando
nada. Precisava ter ideia de preços.
Encontrei um fornecedor em um restaurante, lá dentro do
bazar, chamado Burç. Parece um boteco com poucas mesas na lateral de uma viela
movimentada. Os garçons, acostumados com o dilúvio de turistas, driblavam as
pessoas segurando as bandejas acima da altura da cabeça. Coisa de equilibrista!
A comida? SENSACIONAL!! Recomendo o kebab de carneiro, berinjela recheada,
pimentão recheado e para beber iogurte salgado (isso mesmo!!).
Esse encontro foi fundamental. Atravessando um labirinto de
ruas e passagens, fora do Grand Bazar, ele me levou ao seu QG e lá me mostrou as
diversas qualidades e tipos de Kilim. Ele me indicou outros fabricantes/fornecedores
de cerâmica de Kutahya, luminárias de vidro, olho turco e marchetaria.
O Kilim, tapetes de lã vindos principalmente da Anatólia
(território turco no continente asiático) têm formas geométricas e cores
opacas. Meu fornecedor percorre os diversos estados da Anatólia, adquire os tapetes
nas comunidades e leva para o sul, próximo de Antalya. Lá, em terrenos
alugados, as tapeçarias são esticadas para “tomar sol” durante todo o verão
para perder o brilho e “ganhar” aquela aparência de usado. Já em Istambul,
alguns são cortados para fazer capas de almofadas.
Além da qualidade, os Kilins são categorizados por região:
1)
Kars (fronteira com a Armênia)
2)
Van (região leste)
3)
Sharkoy (Noroeste mais Bulgária)
4)
Kayseri (Região central incluindo Capadócia)
5)
Ushau (Região de Ismir)
6)
Cicim (região ocidental)
Entre outros.....
Toda essa explicação foi regada com diversos copos de chá e
doces turcos. Tirei duas conclusões deste dia:
1)
As lojas do Grand Bazar são revendedores e são
principalmente para os turistas. Embora a pechincha seja incentivada, os preços
finais dos produtos sempre vão estar nas alturas. Para mim isso não interessa.
Preciso comprar volume a preços baixos para poder revender aqui na minha loja
em São Paulo. Os fabricantes/distribuidores estão escondidos em prédios nos
arredores, onde o aluguel é mais barato e o espaço maior.
2)
Os grandes distribuidores tem pouca margem para
negociar. Normalmente eles já dão o preço final. Saiba que o vendedor que
incentiva a negociação, fixa os preços nas alturas!
Very interesting place to do business
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