terça-feira, 29 de outubro de 2013

Hatay ... devo ir??


 
Com o intuito de procurar novos fornecedores, decidi arriscar uma viagem à Hatay, cidade turca no continente asiático (Anatólia).  Segundo alguns lojistas do Grand Bazar, lá eu poderia encontrar fabricantes de artesanato em marchetaria como caixas, jogos de xadrez, gamão, mesinhas, bandejas etc. Produtos dispostos nas bancadas das lojas do Bazar, porém a preços exorbitantes!

Os comerciantes não tinham problemas em me passar a fonte desses produtos, pois não achavam que eu ia me aventurar em uma região tão próxima de uma guerra civil.
 

Isso mesmo, guerra civil!!

Fui localizar Hatay no mapa e verifiquei que ficava a 19 km da fronteira com a Síria e a 75 km de Aleppo. Só para lembrar a Síria está passando por uma guerra civil onde mais de 100.000 pessoas já foram mortas e Aleppo, segunda maior cidade do país, é palco de uma batalha com helicópteros, tanques, morteiros e Kalashnikovs.

Deveria arriscar? Comuniquei os meus próximos no Brasil sobre os meus planos e é lógico que fui contrariado e advertido. Tive amigos que prometeram rezas e amuletos de sorte quando perceberam que as insistidas em abandonar minha ideia não estavam dando certo.

Uma hora e meia de voo a um custo de USD 100,00 foi a parte fácil. Difícil foi segurar minha ansiedade e curiosidade. Desembarcado e aguardando meu contato na área de desembarque, estava certo de que iria avistar o exército de prontidão, refugiados e ambulâncias da ONU. Que nada! Senti uma calmaria no ar que só era interrompida pelos ventos secos e quentes do deserto.

Nos 30 minutos de taxi pude notar o território plano, terra árida e ventos carregados de areia. Parecia uma cidade fantasma! Cheguei ao galpão do meu fornecedor e logo senti o alívio do ar condicionado.

Fiquei impressionado positivamente com o showroom. Um salão imenso com piso de mármore e prateleiras de madeira com diversos produtos expostos. Eram vários modelos de jogos de xadrez e gamão, caixas, mesinhas e outros objetos em madeira encrustados com trabalho de marchetaria.

Adorei!!!  

Suleyman, o dono do negócio, explicou que este tipo de marchetaria é típico do crescente fértil (região próxima dos rios Tígris e Eufrates) e muito comum na Síria. De fato, os comerciantes do Grand Bazar estavam vendendo esses objetos como sendo do país árabe vizinho.

O almoço foi um banquete! No próprio depósito foram servidos kafta de carne e frango, tabule, pasta de homus e babaganuche, coalhada seca, salada de pepino e tomate, pão sírio, folha de uva, enrolado de repolho e outras iguarias. Idênticos aos pratos dos vizinhos árabes.

Para fazer a digestão, Suleyman e seu irmão Yusuf me levaram para conhecer a fabricação semi-artesanal dos produtos de marchetaria, mostraram como embalam pedidos grandes para exportação e discutimos como seria a logística para que meu pedido chegasse a Istambul, para ser consolidado com o restante das minhas compras.

Difícil foi negociar com quem tem o comércio correndo pelas veias da família há gerações. Havia muita variedade e Suleyman fazia questão de incluir pelo menos 10 peças de cada item no meu pedido. Quando eu gostava de um determinado produto, aumentava o pedido mínimo para pelo menos 25 unidades. Logo percebi essa estratégia e deixei de mostrar interesse. Esperava que ele mostrasse o que tinha.

Do ponto de vista cultural, minha viagem à Hatay foi recompensadora. Pude ver como os turcos absorveram e aculturaram os usos e costumes árabes (os turcos não são árabes!).  Essa simbiose ficou clara para mim quando provei a comida, reparei nas mesquitas, vi a paisagem quase deserta, senti o clima árido e convivi com pessoas acolhedoras e afinadas nas técnicas de negociação!

Do ponto de vista dos negócios, embora não tenha achado tudo o que queria e que esperava encontrar, pude comprar produtos diferenciados e típicos da região. Com certeza vão chamar a atenção nas gôndolas da Katmandu!

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