Foram 15 horas de viagem até Doha
(capital do Qatar), mais 4 horas de espera para fazer a conexão e, para
completar, mais 6 horas de voo até Nova Déli.
Enfim, Índia!!
Saí do aeroporto Indira Gandhi
com o sol escaldante na minha cabeça e com o corpo todo moído. Parecia que eu tinha
varado a noite na balada!
O taxi que peguei até o bairro do
Pahar Ganj tocava uma música de uma cantora indiana de voz aguda, cujo ritmo
sincronizava com as luzes piscantes de uma estátua do deus Ganesha que dançava
em cima do console à medida que o carro balançava.
Quando desci do taxi, senti o meu
segundo baque. Era um mundo de pessoas disputando passagem pelas ruas apertadas
do centro. Agora o sol estava mais quente. O pó das ruas mal asfaltadas e o
cheiro forte de vaca me asfixiavam. A quantidade de moscas foi algo que me
impressionou. Também, o volume de lixo espalhado pelas ruas e o estrume de
animais por toda a parte era terreno propício para insetos.
Não lembrava direito do hotel em que
eu tinha ficado da última vez. Afinal fazia 3 anos desde minha última caída
para lá. Desci do táxi, peguei minhas malas e fui cortando pelo rio de gente e
tentando me livrar das dezenas de pessoas que tentavam me vender uma passagem
para Agra, um hotel barato, uma escultura tosca de alguma deidade e outras
coisas que eu não entendia. Minhas malas de viagem e minhas roupas ocidentais
(jeans, camiseta e tênis) me entregavam como potencial consumidor de produtos e
serviços. Turista recém chegado é presa fácil para esses vendedores.
Finalmente o hotel. Cheiro de
creolina forte indicava limpeza. Fechei as portas do meu quarto e deixei para
trás a entropia viva de uma cidade que luta por espaço e trabalho.
UFA!!
Banho tomado e recomposto, decidi
partir para a guerra. Tinha que segurar meu sono ao máximo para entrar no fuso
de mais de 8 horas de diferença o mais rápido possível. Saí para comer algo para
depois fazer uma visita rápida aos meus principais fornecedores e meu
exportador.
Neste momento cometi meu primeiro
erro nesta capital.
Parei para escutar um motorista
de riksha que não saía do meu pé desde que eu tinha saído do taxi naquela manhã.
- Que dia você chegou à Índia?
Quanto tempo você vai ficar? É sua primeira vez aqui? Do que você está precisando?
O que você veio fazer aqui? Passagem barata? Algum presente para sua esposa?
Sou o melhor guia da cidade e consigo o que quiser pelo melhor preço!
- Brasil? Oh..... Romário,
Ronaldinho, Ronaldo!
Ele tentava de todo jeito me
conquistar.
Perguntei por algum lugar por
perto para almoçar. O motorista fez de tudo para me levar a uma loja que com
certeza dava boa comissão para esses “pescadores de clientes”. Consegui me ver livre dele quando entrei no
primeiro restaurante no meio do bazar central.
Sentei na primeira mesa de frente
para a rua. Em seguida, o garçom veio falando algo que eu não conseguia
entender e apontando para dentro do salão. Abanava um pano na mão como se
estivesse sinalizando para me apressar. Contrariado, obedeci. O salão
envidraçado tinha ar condicionado e estava lotado de hippies sessentões
aparentando terem parado no tempo. Assim que me acomodei, vi pelos vidros do
restaurante um indiano em frente a um caminhão pipa, segurando um cano de boca
larga, esguichando um nevoeiro de pó branco pela rua. Logo o cheiro forte de
inseticida queimava meu nariz e garganta...
Bem-vindo à “downtown” Déli!!
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